Antes dele ir pro roçado tasquei-lhe um beijo molhado, ele fechou os
olhos e me acochou em seus trêmulos braços. Me olhou com aqueles olhos
de oceano e partiu. Podia vê-lo de longe, o corpo magro se perdendo na
campina, o mesmo homem que 50 anos atrás pediu minha mão a meu pai e
resolveu viver pra sempre comigo. Meu velho, meu homem, meu companheiro.
Ele não estava tão decrépito quanto eu, velha e enrugada como um
maracujá murcho. Ele sempre me consolava dizendo que adorava maracujá
envelhecido. Mas eu sei bem como anda esse corpo enfermiço, é só olhar
no espelho que vejo meu eu mofado ali naquele reflexo. Meu velho deve
ser quase cego, como ele consegue me achar bonita assim? Deve ser sua
alma gentil que sempre me acolhe quando estou tristinha pelos cantos.
Engraçado como ele sempre cuidou de mim, e eu dele. Pensei que não fosse
vingar, mas estamos aqui, intactos. De repente eu sinto alguém beijar
minha orelha, é ele. Parece que foi ontem que ele veio na minha casa e
de repente roubou um beijo meu, e partir desse dia eu era dele e ali
mesmo o nosso amor cresceu. Cresceu tanto que a gente foi logo atrás do
casório, vestido branco e alianças, tudo direitinho pra gente ficar no
mesmo lugar. Eu tinha medo de nunca encontrar quem me quisesse mas ele
me amou de graça, me pediu em namoro numa sexta e um ano depois subimos
ao altar. Ele era um moço alto, agora com o reumatismo estava meio
encurvado, continua um charme. Achava impossível ele saber sempre o que
falar, mas ele sempre foi esforçado em me encantar. E quando o frio
congela os pés a gente estica as pernas perto da lareira, comendo
bobagem, dizendo tolie e rindo um do outro. Claro que a gente briga. Mas
nunca pra magoar, ele e eu sempre fomos sutis ao ponto de não
machucarmos um ao outro pra depois sangrar. Meu velho continua bonito,
com voz grave me convida pra jartar. E eu de certo modo entendo que
aquele tom agudo é na verdade o momento da minha voz ele escutar. E eu
canto baixinho erto do seu ouvido. Ele gosta. Sorri como um menino doce.
Faço cócegas e ele ri ainda mais, quando ele me olha eu dou graças a
Deus por ter encontrado esse pedaço de paraíso, meu velho, meu abrigo.
Amigo fiel que me enche de paz.
6 comentários:
Awn, que texto mais lindo e acolhedor. Lembrei dos meus avós, que estão bem próximos de fazer 50 anos de casados. Os amo tanto que nunca quero sair de perto deles. Sei que a casa deles sempre será a minha casa. Me sinto feliz e acolhida aqui, apesar das brigas em família e de algumas vezes os outros filhos e netos sentirem ciúmes dagente. Sabe, eu sempre estarei com eles e com a inha mãe aqui. :') Bjin.
que texto encantador! me fez sorrir ♥
Que delícia de ler *-*
http://lladodedentro.blogspot.com.br/
Florzinha, obg por ter se inscrito no Felicidade Pelo Correio, vai ser uma delícia me corresponder com vc!
<3
Ah, eu quero isso (:
Espero daqui um tempo poder também me ler nesse seu texto.
Gostei demais.
E me identifiquei também. E mais, me identifiquei contigo.
beijo, beijo!
Goiabasays
Ooh! que lindo! Eu quero um... "Meu velho" também, rss.
Perfeito prima, lindo, simples e profundo texto :)
Postar um comentário