16 de out. de 2011

3x4


Uma das cenas que divagam em minha imaginação adubada é uma análise de mim mesma através dos olhos do passado.Como se eu retornasse ao velcro que me desabrochou e perguntasse para minha infância se ela está orgulhosa pela minha identidade atual.Um devaneio vago mas proposital.Talvez um escape,o passado provavelmente gostaria da minha personalidade,algo que o presente ainda desconfia e torce a boca.Desde a idade infantil eu desejei ser mais do que os outros especulavam,e ainda hoje esse anseio permanece marchando.Recordo de ser uma criança ambígua,meio transcendente e peculiar.Mentia com uma facilidade imensa,algo não agradável,mas minha vida não era muito empolgante então eu desatinava em criar um mundo mais fascinante.Deliciava-me em ler minha enciclopédia e aprender sobre criaturas das profundezas,e imaginar um duelo colossal entre um cachalote e uma lula gigante.Mais prazeroso era sentar no sofá e escurecer o ambiente,para assistir tv Cruj.Mas nada se comparava em fazer as coisas mais desprezíveis para uma menina;como enterrar minhas barbes ou pegar minhocas na areia,conversar com peixes e medir ovos de calango.O mais empolgante era deixar as formigas na bacia e simular um resgate estilo hollywoodiano.Eu possuía uma imaginação realmente espetacular,criava histórias com uma facilidade incrível.Enganava muitos com minhas historinhas estrambólicas,mas era preguiçosa demais para colocá-las no extenso.O tempo passou e me tornei uma adolescente comum.Confusa,bipolar,rebelde e com uma personalidade conflitante.Toda semana eu era uma personagem distinta.Lembro que eu geralmente me inspirava nas protagonistas dos filmes(eu que na infância sempre queria ser a power ranger amarela,agora escolhia as maiorais),e assim julgava ser alguém,mas no fundo eu era apenas mais um androide.E a cada dezembro eu me desvencilhava dos cactos que me espetavam,até decidir ser alguém de alma e cérebro.A ambiguidade me deixou no dia que resolvi entregar minha vida a Jesus Cristo(mesmo que eu fosse à igreja desde os 4 anos).De repente minha realidade trivial se tornou mais realista e valorosa.Deus me deu uma personalidade só minha,e não copiada de filmes da sessão da tarde.Eu poderia ser eu mesma sem necessitar clonar os outros.Os 15 anos chegaram e levaram os anos com uma facilidade imaginável,e aqui estou com meus dezenove.Pensei que engordaria quando completasse dezoito,ou seria uma super garota que todos elogiassem.Mas não,continuo magérrima e muitos apenas me suportam.Todavia existe algo que ninguém pode furtar de mim,minha auto percepção!Isso é o que realmente valerá para aqueles que não querem ser destrossados pela corrupta opinião alheia.Eu realmente não me importo se os habitantes dessa região sabem meu nome ou não,no fim das contas ninguém quer conhecer ninguém verdadeiramente.As pessoas me julgam muito desconcertada e lerda,sem talento e indecisa.Olham-me como um indigente sem direitos autorais.Que me importa?cravei muitas estacas no coração por não me adequar aos padrões superficiais da ''humanidade''.Tudo que eu mais desejo é viver a minha vida sem esperar que os outros vivam por mim.O maior problema das pessoas  é esperar dos outros,esperar ser elogiado e tentar agradar a todos.Sinceramente,isso é muito ilusório.A vida é mais que um espetáculo circense,é uma oportunidade de exercer aquilo pelo qual fomos criados.E os meios te empurram ser o que você não é,te influenciam a fazer coisas que não condizem com sua personalidade.Para um jovem,o mais complicado é analisar-se de maneira limpa e transparente.E quando estamos na passagem de juventude para adulta percebemos quão doloroso é esse caminho.Os familiares te sufocando de um lado,seus amigos de outro,e você é obrigado e ficar em silêncio.Como é possível compreender-se se não decidirmos nos explorar antes?como escolher a profissão certa se não sabemos das nossas aptidões?Se não sabemos até onde vai a influencia das pessoas nos nossos gostos e escolhas?O que se quer de fato fazer pelo resto da eternidade?São indaga que as vezes sufocamos para ceder a vontade dos outros.E por isso vemos tantas pessoas infelizes,que não encontraram felicidade no seu trabalho ou na família que construiu.Se pararmos para pensar por um segundo,veremos que grande parte das nossas escolhas estão compenetradas no conceito de outrem.Um jovem que namora com uma menina só por sua beleza(está com ela pela opinião dos amigos)uma garota que escolhe um curso na faculdade sob pressão dos pais(ela nem conhece a si mesma,como pode escolher algo que ela mesma desconhece?)Uma amizade desfeita porque o menino é gay(as pessoas irão olhar pra você desconfiadas,disse a mãe do outro rapaz).É TÃO PATÉTICO!Mas essa é nossa realidade diária.Eu tenho uma personalidade e não preciso provar para ninguém,eu tenho um sorriso que não está relacionado aos meus dotes estéticos,mas a minha beleza natural.Eu gosto de pássaros como araras azuis e tucanos.Gosto de baleias e do bater de asas das borboletas.Admiro as pessoas resilientes e as sabias.Gosto de estudar o que me interessa e é isso que me faz feliz no dia a dia.Canto enquanto lavo louças e danço quando tomo banho no quintal.Sou feliz em ter minhas amigas(mãe,kah,desa).Me agrada a arquitetura Árabe,e o mistério do Oriente Médio.Sou apaixonada por causas sociais e tenho ideologias bem formadas.Adoro discussões acaloradas e conversas mansas.Ler é mais que um hobby,virou vício!Não me apaixono fácil como antes,mas me iludo incrivelmente depressa.O homem mais belo do mundo é aquele que sorri com a alma,e a mulher mais linda tem a pela mais perfeita do universo,negra.Adoro ser pitoresca e exótica.Mas mais que tudo amo o amor de Deus por mim.Com ele eu não preciso ser perfeita,só eu mesma.Enfim,sou feliz mesmo com meus mil defeitos.

2 comentários:

Desa disse...

te admiro de+

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Você navega nas letras como se fossem os próprios sentimentos ali desaguando. E as palavras vão denotando você de uma maneira quase que teatral. Esta forma foi suave, bem encantadora. Bonito esta pintura que deixaste de ti, das sensações que te envolvem, dos sonhos que te cercam.

Um texto profundo...

Lindo!

Beijo!