24 de ago. de 2013

Desculpa Moço Capítulo 6.



Quando a tarde chegar e em teu peito um ardor suave surgir não te esqueças que minhas flores favoritas estão florescendo no campo. Lembre de mim quando passares pelo roçado, quando teus pequenos olhos se encontrarem com a relva. Ainda sinto o teu hálito quando aspiro ao verde aroma das plantas no quintal. Quando abri sua carta naquele dia de vento frio senti que talvez o velho sentimento ainda existisse. Esqueci de tudo naquele instante, esqueci de mim por um segundo para lembrar que em algum momento da vida eu pensei em construir algo ao seu lado, mas tudo isso era recordação. Não sei o que escrever além das palavras que renasceram das cinzas e aqui encontraram uma nova chance de reviver. Tem em tuas mãos meu coração alquebrado, minhas lágrimas diurnas semimortas, minhas melhores cartas endereçadas ao teu peito beligerante. Mas tenho que lhe contar uma novidade, não tenho mais aquela doçura que arfava outrora em meu ser. Em mim ressoa a vastidão das horas e a nostalgia de restaurar o que se perdeu. Ainda recordo das tardes fagueiras naquela campina em que passávamos o resto do dia vendo o horizonte dourar-se de sol e depois banhar-se de oceano até nos afastarmos das bordas azuis que adornavam a terra de silencio. Não o amo como a primeira vez que esse amor em mim nasceu, mas o amo com a doçura do tempo. Meu sentimento por ti apenas adquiriu uma textura antiga, quase envelhecida. Mas continua sendo amor. Preciso dizer que hoje meu amor próprio está inflamando com mais ousadia do que antes. Aquela moça ingênua e afável que outrora você conheceu desapareceu tão rapidamente que talvez você nem me reconheça mais quando ler esta carta. Sobretudo porque a brisa do lado de cá respira com indolência, quase moribunda, morrendo na altura da voz que em silêncio canta a solidão. Por que tuas palavras tardaram tanto em chegar? Esperei tantos meses por isso, e somente agora tuas emoções se afloram até meu coração. Talvez eu tenha me encouraçado de pérfidas certezas e teorias, mascarado minha lonjura entre os livros da estante, me refugiado em doloridas conclusões que me levaram a acreditar que todo romance é banal. Mas, quem dera eu realmente crer que esse sentimento outrora adormecido tivesse se esvaído pelos corredores da minha alma, quem dera eu ter chorado cada gota de sentimentalismo enquanto recordava, só que tratei de guardar não o sentimento, mas o sentido de amar você. Amar-te enquanto os quilômetros nos distanciam, amar-te mesmo na ausência das palavras, amar-te nos dias de completa exaustão e cansaço. Lembro-me do dia que me vi encantada pela sua textura amena, pelo seu hálito saudável de riacho doce, pelo seu olhar de menino crescido. Há amor em cada palavra. Mas nossos olhos objetivos não sabem ler o intrínseco, apenas o toque dócil e desmedido consegue traspassar toda a candura do sentir. Eu te amo, mas tenho que partir. Te amo, mas a vida tem que seguir. E se os meses não refrearam a dor de não tê-lo, é porque tudo o que foi perpétuo continua a se expandir dentro do meu coração. Estou de coração partido, adeus.

2 comentários:

Jéssica Teles disse...

Adorei o texto :)
Tá mandando bem!

beijo, beijo!

Goiabasays

Unknown disse...

A-I M-E-U D-E-U-S!
Que texto lindo!
Tava com taaaaaaaaanta saudade de ler os textos desse blog!
Hoje dediquei um pouco do meu tempo a estar aqui e ser refrescada com belas histórias.
Essa é,de longe,a minha favorita.
Talvez porque tenha muito de mim em tudo isso,ou talvez porque eu simplesmente consigo absorver a verdade desses sentimentos.
Enfim...

Valeu muito a pena estar aqui hoje.

Beijos!