16 de jun. de 2013

Distanciamento.

                

 Dia a dia o vento traz as minúcias de outros seres que me descrevem de modo distintamente incomum ao que eu havia pensado sobre mim. Ventania, a poeira se eleva e o piso de paralelepidedos se destaca na avenida de cor aveludada. Sua voz era ácida e seu riso sutil exibia um jeito estranho de amar. Palavras e palavras, vocábulos desconhecidos e definições ásperas, aos olhos dos vizinhos quem sou? Uma estrangeira, talvez. Peregrina e ilusória como uma flor no meio do asfalto quente. Sinto a dor das concepções pretéritas, dos adjetivos vis que mascaram as intenções originais. Taxonomicamente delimitada, como borboletas monarcas na estante de um etnólogo. Medem o tamanho das minhas antenas, dizem de estou  pronta para voar sozinha, ou se não amadureci no período de enclausuramento. Anotam em seus cadernos as cores das minhas asas, as linhas horizontais e verticais que me subdividem. Talvez eu receba um nome ditinto. Uma nova espécie ou mais uma daquele conhecida classe de insetos. Eles me guardam em suas tabelas e me nomeiam como mero objeto de apreciação. De repente eles abrem os velhos livros e procuram por significados que me caracterizem, buscam algo comum entre eu e as outros. Somos exatamente igual em tudo, mas agora nessa posição infereior eu sou a caça. Presa perpetuamente em conceitos formulados e fixos. Não consigo tocar o âmago. Tudo é extrinseco. Longe da pureza da alma, perto dos ladrinhos inférteis da estação. Como alcançar a essência quando todos me definem apenas pela casca? Seja assim, seja aquilo... seja. Mas o que sou, afinal?

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