27 de abr. de 2013

Orla

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Estacionei o carro de frente pro mar e fiquei quieta por um segundo indagando aquele imenso oceano sobre a fragilidade de uma vida, esta que respira, canta e adormece. Olhei para a paisagem que mostrava toda a minha pequenez e joguei a cabeça no volante. Fiquei ali por dois minutos e 59 segundos. No último segundo levantei os olhos e sorri como uma criança recém nascida no outono, respirei o ar suave da praia e pisei no asfalto quente enquanto procurava minhas chinelas no carro. Abri o porta malas e tirei meus entulhos, algumas roupas envelhecidas e um charuto. Era do meu avô, legado de uma linhagem fabulosa de sonhadores. Que resolveram sentir a vida além do palpável, gostavam de tocar o ar e respirar a neblina matutina, observar o espetáculo de uma tarde tranquila, pegar vaga lumes ao anoitecer. Mas restou apenas um objeto rústico e estimável. Fragmentos de uma vida que ficou no passado, agora estou nua no vento e repouso na areia branca toda a minha imensidão de tormento... me torno mar, montanha, aurora. Uma passarela longínqua me separa do mar, foi apenas um sonho, lembre-se que sou de ascendência estelar. Percorri a plataforma com a mesma preguiça do inicio da manhã, agora é meio dia e a fome me pegou sorrateira. Não há restaurante por aqui, quem sabe eu pesque uns peixes e faça uma fogueira, quem sabe...Por enquanto procuro por alguém nessa cidade silenciosa e bonita. Mas não há ninguém por perto, apenas o oceano e minha fome. Que gosto tem o mar? Ele caberia em minha imensa boca? Que pergunta infantil, pareço uma criança tonta fazendo perguntas divertidas. Deve ser a quentura, o sol está a pino e me sinto tão leve. Penso que posso correr até me perder de vista, e voar até a outra extremidade do globo, sentir a neve congelar meus ossos. Mas está tão quente, cansei de voar agora quero um belo peixe frito e arroz. Não, eu quero só olhar o vento carregar a areia da praia. Me mover lentamente até ser consumida pela vastidão azul à minha frente. Quero, sobretudo, viver.

Um comentário:

Ana Paula disse...

Um belíssimo conto pleno de vida!
Gostei demais do novo layout!
Beijo