14 de jan. de 2013

Maltrapilha de Abba


Quando estou perto de me apaixonar sinto,como um arrepio, a involuntária vontade de dizer umas verdades para mim mesma. Como uma boa conversa com meus botões paro por um instante e penso nas incontáveis razões que tornam o meu sonho romântico em um curta metragem cinzento e solitário. Começo a esquadrinhar cada canto de mim; leio-me nas entrelinhas e faço um esboço claro sobre as cavernas do eu e dos caminhos corpóreos que somente eu conheço. Após uma sucinta leitura particular reconheço minha pequenez e percebo as temidas desarmonias que esculpem minha imagem na vista alheia. Como um raio cortando o céu chuvoso e adentrando na terra os pensamentos me partem em pequenos pedaços. Quem poderia apreciar essa pele espinhosa e mal tratada? Uma cena distante se materializa diante de mim, lá estou eu com meu querido e de repente ele toca meu rosto com... ternura? Que sentirá ele quando tocar a minha face pela primeira vez? Penso que ele se surpreenderá e logo irá repelir a minha presença. E quando ele souber que minha derme talvez não seja tão macia quanto a seda mais pura ? E quando ele notar a curva que separa minhas esguias pernas? Será que continuará a olhar-me com encanto? Esses cabelos negros e cacheados prenderão o olhar de alguém no meio de tantos cabelos sem ondulação? E esse sorriso largo em demasia brilhará o suficiente para conquistar outro coração? Na profundidade do meu ser sei o que provavelmente ocorrerá. Talvez eu me torne uma boa tia para meus sobrinhos e adote um menino de olhos castanhos quando estiver pronta. Posso ser a mais apaixonada das moças de um filme antigo, mas provavelmente serei a personagem que fica feliz em estar sozinha caminhando na rua vazia num domingo de abril. A velhinha simpática que acorda cedo para regar as flores de seu suntuoso jardim. Sei que alguns reclamarão do excesso de drama, mas que é a vida senão um oceano de emoções? Gosto de transparecer toda a intensidade que arde em meu perito, que pulsa e faz sangrar tudo em mim. Mas sei bem como são as pessoas que estão perto de mim. Alguns poucos me compreendem e conseguem aceitar minha excentricidade. Mas entendo a postura de alguns cavalheiros que se encantam pelo meu sorriso e alguns segundos depois esquecem da minha ternura. Não sei se apenas eu me sinto assim. Acho-me insuficientemente atraente e convencidamente feia. Tento me convencer da minha beleza incompreendida mas no âmago eu sei que não sou bela. Não possuo o estereótipo aclamado pela multidão, nem sou a companhia perfeita para apresentar pros amigos. Talvez eu seja a amiga feliz que levanta seu astral ou a moça inteligente que gosta de leituras longas. Mas longe da biblioteca e dos laços fraternos não passo de um patinho feio entre tantos patinhos amarelados. E também não adiante convencer-me acerca da beleza interior. Compreendo bem meus defeitos internos. São tantos. Você pode estar pensando agora em como eu sou depressiva e triste por dentro, mas não. Eu já fui infeliz mas hoje consigo sorrir com honestidade. Quando estava desmaiada na estrada fui acolhida por um homem meigo que cuidou dos meus ferimentos intrínsecos. Ele disse que me ama desse jeito que sou. Com esse sorriso amarelo e esse rosto cheio de cravos. Com esses braços longos e essa magreza excessiva. Ele me ama com essas pernas tortas e esse coração alegre. Ele disse saber de cada decepção e cada sentimento de morte. De uma maneira assustadora ele conseguiu me amar sabendo de todos os meus erros e de todas as incontáveis vírgulas que atravessam meu ser. Ele olhou ternamente nos meus olhos e deu um sorriso amável. Me abraçou como um pai e disse que me amava de verdade, pois sabia de tudo. Ali eu vi sinceridade; pois ele consegue sondar meu coração. Eu não precisava impressioná-lo e conquistar o seu amor pois ele já está conquistado. Nada que eu faça pode justificar o que ele sente por mim. Ele pediu apenas que eu parasse um pouco e conversasse com ele. Ele pediu para eu contar sobre o meu dia e sobre meus planos pro futuro. Então eu percebi que  ele me encontrou no momento exato, na hora que eu mais precisava de amparo. Percebi que amor nenhum do mundo se compara a esse amor. Que me ama mesmo eu sendo tão imperfeita e com todas as minhas incongruências. E caso queira saber quem é esse alguém tão bom e amoroso, direi com alegria que ele também ama você! Com todos os seus defeitos e deformidades. Ele te olha de uma maneira que ninguém mais consegue te perceber. É um outro ângulo, sabe? Bem mais além da nossa visão terrena. Bem mais alta que o céu azul de um dia ensolarado. E se você, como eu, sabe que não tem muita coisa de interessante e acha que no fundo ninguém se importa com você verdadeiramente, saiba que Deus te ama de maneira singular. Ele só deseja escutar sua voz e ser seu melhor amigo. Simples e belo né? Basta você acreditar.



3 comentários:

Desa disse...

O que seria das pessoas sem suas imperfeições? Cada detalhe é o que faz de nós sermos o que somos. Confuso, mas verdade. Sei que não sou a melhor pessoa pra falar sobre isso, entretanto seria certo 'amar' apenas pela beleza ou um sorriso atraente? É possível que algo duradouro sobreviva apenas dessa forma? No final a beleza se esgota, pra todos, e o que restar é que realmente importa. É que dá sentido para amar alguém.
Ameei a postagem :)

Anônimo disse...

poxa, gata!

Karine Maciel disse...

Amar e ser amada... Sensação incrível! Mais incrível ainda é encontrar em Jesus alguém que nos ama sem se importar com nossas imperfeições. Muito lindo tudo isso!