É como viajar para uma cidade nova. Aquela estranheza que
nos acomete por princípio. Tudo é desconhecido e fascinante. Os arredores que
nos convidam a caminhar e os bares pouco povoados que nos chamam para um café
ao entardecer. Estar fora do seu mundo é algo instigador e por vezes nos
assalta a calma. Assim como os romances que surgem em nosso cotidiano e nos dominam
por algum segundo. No início parecem encantadores e aventureiros. Despertando o
que temos de mais primitivo e vendando nossos olhos com uma seda quase
original, delicadamente a furtar a sanidade que nos é tão característica.
Ultrapassamos as fronteiras que nos torna meros vizinhos e iniciamos uma
perigosa jornada rumo ao desconhecido. Descortinam-se as muralhas que outrora
impediam uma visão aerodinâmica da realidade. Agora estamos em terreno alheio.
Peregrinos em terra estranha com sapatos empoeirados da poeira quente do deserto.
Imigrantes e turistas de territórios despovoados e silenciados pelo mistério.
Tantas vezes somos apenas estrangeiros na vida de outrem. Pensamos estar
familiarizados com sua cultura; com o jeito de pegar a colher e colocar a
comida na boca. Pensamos estar aptos em imitar o sotaque exagerado do nativo,
mas apenas dizemos o que não conseguimos compreender. E de repente tudo o que
aprendemos sobre os modos e costumes simplesmente nunca foram de fato lições,
mas sim armadilhas sentimentais. Achávamos bonito o modo que eles nos recebiam.
Sempre alegres há desejar um dia bom para nossas incursões pela cidade. Mas
nunca fomos conhecidos. Apenas vizinhos distantes que nunca experimentaram a
torta de maracujá que a vovó prepara aos domingos. Após alguns jantares sob a
luz das estrelas os diálogos cessam e silenciam. Todas as conversas desaparecem
e cada gesto foi apenas um jogo sentimental. Nenhuma palavra dita foi
verdadeira, nenhum riso foi deveras gargalhada. Apenas encenações e melodramas
pensados com afinco. No fundo ninguém se tornou conhecido. Os muros continuavam
a separar tudo. No fim da viagem ao mundo estranho de outro ser sentimos a
discreta dor de saber que nada será como antes. Continuaremos como estrangeiros
em terras dispersas no globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário