2 de nov. de 2012

Entardecer

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A tarde silenciava seu brilho nas latentes luminárias que incandesciam o litoral. Meus olhos ardentes observavam a quietude do mar enquanto o sol repousava sonolento no horizonte. Seu olhar se dissolvendo nas ondas que se esticavam sem ânimo na enseada. Você devia estar aqui, vendo os mesmos pássaros sobrevoarem esse alaranjado céu. Sorrindo ao sentir a imensidão silenciosa do oceano te tocar. Seus braços deveriam estar envolvidos aos meus enquanto a brisa fria nos rodeasse. Devia ser simples, suave, de uma meiguice extensa e doce. Mas o que vejo são apenas grãos de uma areia alva. Que afofa meus quadris e contempla o mesmo entardecer que os meus olhos distraídos percebem. Suas pupilas devem estar vendo esse mesmo sol se despedindo, de um ângulo distintamente oposto ao que eu observo. Quem sabe suas mãos estejam a segurar as de uma outra jovem. E os lábios se toquem delicadamente na luz sublime do sol que se põe. E você não recordará das minhas cantigas nessa noite. Enquanto a chuva resfria os corações áridos eu sussurro uma musiquinha antiga. A lua me olha com a sua sensata doçura, e nós, nós somos apenas grãos de areia em um vasto e profundo oceano azul. De águas escuras a banharem-se no céu deslumbrado de estrelas, cativado pelo brilho das lamparinas que aprisionam cadentes estrelas do infinito universo. É noite, e o frio me estremece até a ponta do último dedinho do pé. Somos apenas uma doce chama de esperança, um raio que procura abrigo em noite tempestuosa, um cardume de krill iluminando a escuridão do oceano. Somos mais que o pó das estrelas, que uma canção não terminada, somos o silêncio de um instante sombrio, somos a brisa refrescante da madrugada. E suavemente o sol se esclarece, nasce e cintila sua beleza no bonito dia que sorri para aqueles que esfregam os olhos, esticam os braços e agradecem ao Criador por mais um deslumbrante alvorecer.

Um comentário:

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Lindo texto. O sentimento passeia de mãos dadas com as letras. A gente sente em cada letra o primor de um coração que exala suavidade e a meiguice de um afeto que se destaca em alto relevo no peito.

Lindo texto, mas melancólico. Triste...

Beijo!