5 de mai. de 2012

Conversa pra não se jogar fora.

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Era um ensolarado dia de maio.Desses que o sol queima a pele e a gente olha pro céu pedindo chuva.Eles passaram o dia a caminhar no parque como se fossem dois apaixonados que nunca se entregam por receio de amar.Ela sorria como uma estrela cadente,e ele era frio como uma noite sem cobertor.E era isso,talvez,que fazia tudo ter sentido.Eles eram tão diferentes que o sorriso de um aquecia o inverno triste do outro.E as horas corriam mais depressa que os pensamentos.Um banco de cor opaca esperava por eles ao fim da caminhada.Sentaram com prazer ao perceber o lindo lago esverdeado que pintava aquele cenário tão bonito.Se entreolharam e sorriram.As palavras mais profundas são ditas na sutileza de um simples olhar.E assim começaram um diálogo diferente,uma conversa pra não ser esquecida,um mútuo enlace de palavras que mudaria para sempre a vida daqueles dois corações apaixonados.

- Esse é um bom momento pra você recitar um poema.
- Seria,mas eu não lembro de nenhum,minha querida.
- Então faz um agora,agorinha mesmo!
- Você não existe!
- Claro que existo,eu penso esqueceu?
- Nem sempre você pensa,na maior parte do tempo você esquece de pensar.
- Então...não tem nada a dizer?disse ela olhando fixamente nas pupilas dele.
- Não.
- Você é um saco mesmo,está sempre pronto a cortar meu barato.
- Nada disso,você é que idealiza demais e não sabe viver o momento.
- Ah é?me ensina então a viver o momento?disse com ironia.
- Fique em silêncio e viva.
- Quê?
- Brincadeirinha.
    E os dois riram enquanto a tarde caia no colo da noite.Eve se pôs de pé diante do verde lago que se estendia adiante dos seus olhos.E virou-se de súbito para ele,prosseguindo a longa conversa vespertina.
- Você me acha atraente?
- Não.
- Por que?indagou Eve com um olhar enfurecido.
- Você é um palito.
- Pelo menos eu sou um palito feliz!proferiu após uma pausa.
   E fez-se um silêncio cômico.Ele pasmado,olhando para aquela finura de menina com um sorriso na boca,prestes a explodir numa risada gritante.
- Que foi?chocado com minha reação?
- Eu acabo de te menosprezar e você vem com essa...diz ele com as mãos na cabeça inconformado com a postura da moça.
- É isso mesmo.Sou um palito muito feliz,prefiro ser assim que ser uma caixinha de fósforo infeliz,como você!
- Eu não sou infeliz!
- Bem,não é isso que eu percebo quando você diz que está bem.
- Talvez eu não seja um poço de doçura mas eu sou feliz sim.
- Tá bom,parei!Mas eu prefiro ser assim e ser satisfeita,que ter beleza e não sorrir.
- Mas você sabe que não é o sonho dos garotos,muito menos a idealização de mulher.
- Eu sei,e por isso tento não escutar as críticas.Isso machuca,mesmo estando sorrindo estou chorando por dentro.
- Desculpa Eve,eu não queria te machucar.
- Não...estou acostumada com tudo isso,com esse discurso sexista de que para ser bonita eu preciso estar no aumentativo.Bonitona,gostosona,ter pernão,peitão,bundão...é cruel não ser um frango de padaria hoje em dia.
- Frango de padaria??? kkkkkkkkkkkkk você não existe Eve,não existe...e risos acalmaram os ânimos daqueles dois seres que se encaravam na imensidão esquecida do parque.
- Sabe Kevin,andei pensando esses dias acerca disso.Dessa padronização do indivíduo.Como se não tivéssemos o direito de sermos quem de fato somos.Aparência,aparência...as pessoas estão muito preocupadas em mostrar alguma coisa,e se esquecem de ser.
- Verdade Eve,eu sempre aparento o que não sou.Aqui dentro está escuro,sabe?e dói aparentar ser o que não é.
- Por isso eu prefiro ser feliz que aparentar felicidade!
- Você é tão diferente Eve,mas eu não consigo ser o que você merece ter.
- Kevin você não precisa ser outra pessoa,só seja verdadeiro comigo e diga-me o motivo de não estarmos juntos...por favor.
- Eu não sei Eve,eu gosto muito de você mais não sei o que me impede de viver tudo isso.
- Acho que no fundo você tem vergonha de mim.Porque como você falou eu não sou atraente e não sou a garota ideal que você gostaria de apresentar para os outros.
    Um silêncio rude calou por um instante a conversa,mas Eve resolveu dissipar o silêncio:
- Sei bem o motivo de você não ter coragem de ser meu namorado,porque seus amigos não me consideram gostosa,só isso.
- Claro que não!disse Kevin olhando para o vácuo como se estivesse buscando uma resposta que  ofuscasse a verdade.
- Não precisa mentir.Eu não vou ficar magoada,com o tempo a gente aprende que a verdade é a única chave que nos liberta das cadeias internas.
- É verdade Eve,me perdoe por eu ser tão apático e indiferente.
- Não importa o quanto você seja solitário querido,sempre estarei disposta a te fazer companhia.
- Eu te amo.
    Eve não esperava aqueles palavras.Ele sempre a surpreendia quando não havia mais motivos de acreditar.
- E por que não estamos juntos?
- Não sei,eu realmente não sei...
- Quem sabe um dia a gente entenda o real motivo de não estarmos juntos.
- É,um dia,hoje não.
     E a noite adormecia na pele daqueles rostos que se entreolhavam com ternura.Ele repousou a cabeça no ombro da moça,respiração lenta a traduzir toda a importância daquele momento.Olhos dilatados a absorver o sentido daquele mistério.Os dois sentindo o vento levar as indagações,sorrindo para a lua questionadora.Quem sabe em uma outro pôr do sol eles encontrassem a resposta que silenciaria todas as dúvidas.Mas ali só existia um simples ponto de interrogação,ofuscado pela lanterna do guarda que acordava os dois apaixonados que adormeceram naquela praça vazia,sonhando com um amanhecer distante que tardava em despontar no céu sombrio.


Um comentário:

Samara Even disse...

Linda,Tamires!
Me identifiquei muito com a Eve. ^^
Mas é difícil o amor mesmo,né!
Um dia as coias se ajeitam,eu sei.

BJUKU!!