Fuga.

Talvez esse seja o nosso final feliz.
Algumas lágrimas miúdas e um beijo de despedida.
O guarda chuva solitário repousa,enquanto a chuva despedaça o nosso vazio.
Sete dias sem alfabeto.Silêncio escondido no sótão;ninguém o encontra;está aqui,está em nós.
A sopa está fria e a chuva escorrega para dentro da alma.
Busquei solução,sozinha.
Chorei sexta,sozinha.
Sorri enquanto lavava a louça,pensando em como fugir desse nevoeiro.
O trem está vindo,as malas estão prontas,o coração não está.
Esperei um pombo correio,esperei um email;nada veio.
Antes de partir escrevi uma carta.
Dobrei-a enquanto as lágrimas inundavam o quarto.
Você se foi e não deixou bilhete.
Pensei que voltaria quando o inverno fugisse,mas não voltou.
Não entendi quando seus olhos estremeceram naquele dia nebuloso;era um aviso,uma fuga.
Eu estava lendo um livro antigo e nem olhei direito que cor estava seus olhos.
E foi.
Não sei se o trem virá para me levar para longe.
A estação está escura,duas luzes de neon clareiam meu rosto cinza.
Não estou sorrindo.Estou apenas sonhando com a fumaça tingindo o azul noite do ceu.
Quem um dia sonhamos ser,é apenas um resquício do que nunca iremos fazer.
Seu medo te tirou de mim.
Duas milhas nos separam:meu orgulho,sua indiferença.
Caminhando entre rios distantes,chorando sem ver as lágrimas,sorrindo sem saber se o riso é honesto,nu.
A plataforma treme,meu trem está vindo.
Nenhum sinal da sua voz,nada...
Você sempre me abandona,quando mais necessito.
Apague as velas e fuja.
Deixe-me no escuro mais um pouco.
Faça o que você faz de melhor,desapareça.