6 de jul. de 2013

Entre o antigo e o pós moderno.

Diga-me caro leitor, o que seria um romance antigo?

                      
        Os dois trocaram minúcias numa sexta feira comum algumas décadas atrás. Conversaram sobre cinema e marcaram um café para o próximo fim de semana. Uma foto apenas, um aperto de mãos e um desejo. Eram jovens de uma época sólida. Os vizinhos sabiam do romance, e eles desconfiavam que algo estava emergindo. Um projeto de vida, um lar e um desejo. No dia do encontro eles se olharam e ali perceberam que iriam se encontrar no olhar um do outro para sempre. Mas para sempre significava até o fim da vida. Uns 56 anos juntos talvez. Dedos entrelaçados e um vislumbre de como seria amanhã. Tomariam café todos os dias, e se reuniriam para jantar às seis. O romance era íntimo, no sentido mais intrínseco da palavra intimidade. Os dois dividiam dúvidas, sonhos, problemas e abraços. Onde passeavam, onde dormiam, onde dançavam, era algo reservado apenas para os dois, os dois. Na melhor época ao momento de maior dor eram os dois que resolviam. Não havia preocupação em parecerem o casal mais bonito, os mais felizes das redondezas. Eram felizes sem publicidade, a ciência de sua felicidade era algo referente à eles, sem grandes espetáculos. Havia um album, guardado na gaveta do quarto. Ali estavam as fotos dos primeiros anos. E alguns cadernos em que ela escrevia recordações. Uma vida íntima, na melhor das definições de privacidade. O importante era os dois estarem cientes de si, de como estava a palidez do céu ou como o outro estava lânguido pelo fim da primavera. Viviam, sem precisar aparentar o que não eram. A sinceridade os rodeava, companhia assídua da vida à dois. Chegaram os filhos, os netos, os cabelos alvos e as dores. Tudo sem desespero, no tempo oportuno. E no final, a morte.

E o romance pós moderno ?

                        

         Uma tarde comum de um domingo qualquer, ele olhou pra ela e disse: Clique! Aquele momento foi registrado para milhões. E cada momento era um estalo, fotografias pelos cantos e mil beijos escorrendo pela mesa. Estavam completamente apaixonados, e quase todos sabiam. Restaurante no domingo, cinema na segunda, praia na sexta, teatro no sábado, e tudo era especialmente reproduzido para todos que os conheciam. Eram jovens poetas e escreviam nas paredes e nos banheiros como estavam amando a vida desde aquele domingo quente. Mas não havia um plano. Um romance efêmero e estelar. Pareciam dois meteoros caindo na terra por acidente. Se Amavam, mas só nas sextas. No domingo era briga e mensagens para todos dizendo como a vida estava azeda. Depois voltavam e o relacionamento voltava a sua postura seria. E eles saíam e chegavam, ficavam e partiam, e iam ficando cada vez mais cheios de nada. No mundo cibernético eram dois pombinhos que se amavam, no mundo real eles estavam conversando pouco, quase nada. Uma vez foram num cinema, antes de sair um clique, sorriso enorme de quem é feliz, depois do flash o clima fechou, as palavras sumiram, silêncio. As fotos mofaram, as mensagens envelheceram, os risos silenciaram e acabou o romance. No dia seguinte os dois postaram uma foto dizendo pro mundo inteiro que o bom é ser feliz sozinho, Clique!

Então, vai de amor antigo ou pós moderno?




4 comentários:

Samara Even disse...

Oxe, quero um amor de estilo antigo, viu. Nada mais lindo que amar, se declarar, mas não ficar se exibindo, contando detalhes e matando a paixão em redes sociais. Bjin.

Unknown disse...

Um amor antigo, por favor.
Que exale sinceridade e que nós estejamos interessados em primeiro mostrar um ao outro o nosso amor.
Parabéns, amiga!
Nas férias, esse cantinho voltará a ser o meu refúgio amoroso.
Beijos! :*

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Antigamente era menos banal. Havia mais valorização dos pequenos momentos. Hoje está muito superficial, atrelado a atos sem valor, a publicidade desnecessária. O melhor romance é o que transcende cliques, mas vive no toque, no olhar, no compartilhar de momentos essencialmente mais importantes.

;)

Que tenhamos um romance contemporâneo, sem desvencilhar do olhar de antigamente.

Lindo texto.

Beijo!!

Anônimo disse...

nem antigo nem pós-moderno. apenas amor, por favor!