21 de jul. de 2013

A doçura da solidão.

                               
Me recostei na poltrona e adormeci. Faz tempo que não repouso em completo silêncio, na companhia do vento e da imensidão azul que aparece pelas brechas da janela. Sem pensar em mais nada, sentindo a vastidão que se estende na sala e me prolonga sem demora. Nomes não me vieram à cabeça, na memória apenas os instantes dóceis para amansar o dia. E a tarde se desmancha no calor das horas sem melancolia. Sinto a paz de estar só. Sujeita ao meu próprio olhar que divaga despretencioso no silêncio. Fiz café antes do sol nascer, e agora estou embebida de sua quentura. Hoje ninguém vem me visitar, como aquele poema solitário e misterioso de Neruda, estou sozinha comigo. Converso com as paredes, estas se estendem ao redor de mim com sua nudez pálida. Nada me revelam, apenas me desnudam, estou sem vestes, nua. No corpo apenas uma calcinha azul e uma camiseta amarelada, pés livres a beijar o piso glacial que me aquece. Caminho até a estante que está tão decrépita quanto a poltrona no meio da sala de estar. Escolho um cd de folk e começo a sentir cada nota como se nada mais existisse, apenas eu e o banjo que me insinua a mexer também os quadris. Há vida saltitando pelos cantos da casa, fagulhas de alegria evaporando dos meus extremos. A música agora é mais ritmada, agora rodopio sem freios, me sinto como um bebê que aprendeu a andar, solta como brisa. A felicidade se aflora e eu floresço antes da primavera. Sou feita de penas brancas e negras de pássaros peregrinos, sou feita de grãos e frutas doces, sou adornada de flocos de neve e danço como uma andorinha no outono. Depois de rir de mim mesma, de me olhar no espelho que fica no meio do corredor me paquero por uns 3 segundos, fico me observando. Vendo a beleza que se esconde nos lugares que só eu vejo. Não preciso de ninguém para me dar adjetivos, sem regras para medir minhas congruências, estou livre de rótulos, sou apenas essência. E fico feito pipa voando sem rumo pela escuridão, para quê palavras se a vida me exige apenas reciprocidade, estou aqui para viver cada toque de existência, cada gota de eternidade condensada em minúcias de satisfação. Deixo o cabelo dançar pela casa, aumento o volume e requebro até cair no chão sem fôlego para levantar. E o riso me consome, tão bom não ter medo de parecer idiota. Pego um livro e me jogo no sofá, o livro é a companhia mais interessante nos momentos de completa solidão. Adoro sentir aquele cheiro de conhecimento, aquele frescor que me leva a outros caminhos e me ensina a ver a vida com olhos leves. Fecho os olhos e adormeço, feliz por estar em boa companhia.

      
 Acontece.

                                                  Bateram à minha porta em 6 de agosto,
                                                  aí não havia ninguém
                                                  e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
                                                  e transcorreu comigo, ninguém.

                                                  Nunca me esquecerei daquela ausência
                                                  que entrava como Pedro por sua causa
                                                  e me satisfazia com o não ser,
                                                  com um vazio aberto a tudo.

                                                   Ninguém me interrogou sem dizer nada
                                                   e contestei sem ver e sem falar.

                                                   Que entrevista espaçosa e especial! 

                                                                    Pablo Neruda.

3 comentários:

Alexandre Lucio Fernandes disse...

A solidão pode principiar encontros importantes conosco mesmo. O coração se aprofunda,aninha-se e recolhe seu olhar no mais belo interno. A gente floresce. Com um livro então, mais ainda.

Que seja com o meu agora.

:)

Beijo!!

Nanda Torres disse...

Não gosto de solidão. Mas às vezes é preciso termos um encontro com a gente mesmo, sozinhos pensamos melhor : )

Linda...
Lembra da novidade que eu disse que iria ao ar dia 1º de agosto?
Pois bem, está lá no blog!
Link: http://lladodedentro.blogspot.com.br/2013/08/desafio-do-leitor-agosto.html


Se trata de um desafio mensal proposto aos leitores do blog, que até determinada data aparecerão no Lado de dentro!
Conto com a sua fofa participação! *-----*
O primeiro desafio já está lá, bora conferir?
Beijo beijo

Nanda Torres disse...

Não posso nem pensar em solidão agora que choro, estou num momento não favorável a ler estes textos :(

Flor, te indiquei uma tag lá no blog, o link é esse:
http://lladodedentro.blogspot.com.br/2013/08/minha-vida-de-acordo-com-o-teatro-magico.html

beijo beeeijos,
<3