5 de mai. de 2013

Epiderme Cap. I

                
Foi numa tarde fagueira que fui convidada por ele para jantar com seus pais. No começo relutei dizendo que tinha umas coisas pra resolver mas ele não aceitou minhas desculpas. Parecia obstinado em me mostrar pros seus pais. Eu não entendi o motivo da pressa, mas se ele queria tanto me apresentar para sua família é porque o nosso namorico estava se tornando sério. Demorei longos minutos para escolher o vestido mais apropriado para a ocasião. Depois de duas horas estava pronta esperando por ele na calçada de casa. Chegou com aqueles olhinhos de criança feliz que sempre me dá vontade de sorrir; disse que eu estava bonita e entramos no carro. Foi engraçado ver seu nervosismo. Era evidente em seus olhos que algo estava fora do lugar, talvez fosse meu batom vermelho...ou a cor do meu vestido? Foi apenas um sopro, alguns minutos depois ele voltou a ser o mesmo rapaz de sempre e me olhava com alegria durante a viagem até sua casa. Devia ser umas 19:00 de uma noite fria e tensa. Pensei entrementes que o vestido de mangas teria me poupado do frio daquela região mais distante da cidade. Mas eu escolhi um longo decotado, quer dizer, não tão decotado...deixava meus braços nus, para meu desconforto. A casa dos seus pais, para a minha surpresa, era ainda mais bonita do que eu havia imaginado. O jardim na entrada convidada os olhos para apreciar as lindas violetas que juntas quase formavam um poema imaginário. A casa assumia uma postura soberba comparada a maioria das residências que eu já havia visto. Uma grande sicômoro no gigantesco quintal deixava tudo ainda mais encantado. Nesse instante senti vontade de entrar no carro e ir embora. Olhei pra ele meio perdida e disse quase sem abrir a boca que queria sair daquele lugar. Mas foi em vão. Quando dei por mim estava sentada na majestosa sala de estar da sua elegante mãe que me olhava como se eu fosse um insento numa loja de inceticidas. Naquele momento daria tudo para ser invisível. Me senti contrangida pelo olhar desdenhoso dos seus pais. Não compreendi a princípio o real motivo de tudo aquilo. Fiz um pedido quase mudo para ir no banheiro. E ali encontrei alguém que naquele instante me fez entender a razão do desconforto passado. Havia um rosto cuja pele era negra e olhos vermelhos cuja tonalidade quase se aproximava do escarlate mais puro. Na epiderme estava o motivo de tudo. Nem me apresentei direito, parecia que a minha cor já era um vislumbre de tudo o que sou. Eu poderia ser rica sabe... mas uma negra da classe burguesa não era comum naquela vizinhança. Ele nunca me tratou como alguém diferente. Parecíamos tão iguais que nunca passou pela minha mente que naquela noite encontraria o racismo estampado nos olhos azuis de sua mãe. Ah, esqueci de dizer que ele é branco e tem olhos de oceano. É que isso é tão normal pra gente que não fiz questão em dizer a nossa cor. Mas por ocasião do jantar eu tenho que destacar esse detalhe. Por isso ele fez tanta pressão pelo encontro. Queria que os pais soubessem com quem o filho de "sangue azul" estava se misturando. Um netinho mestiço iria pintar a ascendência essêncialmente europeia da sua família com um teor mais corado, por isso ela me olhou com nojo quando viu meu crespo muito bem assumido. Se eu não gostasse dele teria feito um escândalo, e ele teria que me levar pra casa antes mesmo do jantar ser servido naquela mansão mal assombrada. Mas ele segurou forte em minha mão quando saí do banheiro e disse que estava tudo bem. Depois voltei pra sala e o Peixe  já estava na mesa. A matriarca da família sorriu para mim e perguntou se eu já havia degustado um peixe daquela qualidade antes. Eu sorri e disse que um peixe daquela proporção alimentaria minha família por uns três dias, e que até mesmo o valor do pescado era equivalente a feira do mês lá da nossa casa. A irmã mais velha deu uma risada e olhou pra mãe como quem ri de uma piada sem graça. Ele apenas comeu o peixe e um pouco de arroz, chamou o pai no canto e disse que não suportava mais aquela situação. Depois retornou à mesa e me apresentou aos seus pais como sua namorada. Caminhou até onde eu estava e segurou minha cintura e disse que a família estava muito feliz em receber uma moça de cor em sua residência. Eu olhei profundamente em seus olhos, sorri com toda a classe e fui embora. Na verdade saí correndo como um gesto de protesto. Não disse nada, não derramei uma gota de pranto, corri. Nem toda fuga é covardia. Nem todo silêncio é concentimento. Mas ali, naquela terrível penúria minha revolta foi deixá-los em sua miséria mental. Eu necessitava chorar em silêncio. Depois eu encontraria um meio de gritar a minha dor. Por enquanto, apenas o som do silêncio.

2 comentários:

Samara Even disse...

Texto lindo e inspirador como sempre. Amei! O blog tá fofo! <3 Bjin.

POETA CIGANO disse...

Querida amiga e poetisa Tammy ...!!!

Perdoa-me não tê-la visitado amiúde. Sei que não é Uma justificativa plausível, mas aliado à minha falta De tempo, tenho, graças a Deus, um grande número
De seguidores amigos como você e não estou dando Conta mesmo. rsrsrsrs.
Você é uma grande e especial amiga, portanto nunca A esqueci e nem vou esquecê-la. Estou aqui presente
Para lhe desejar um grande e feliz “Dia das Mães”.
Que sempre haja luz em seus caminhos e, que a felicidade
E o amor sejam uma constante em seu coração.
Beijos de luz !!!!!!!!!!!!!!!

POETA CIGANO – 08/05/2013

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“Poesias do Poeta Cigano”

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