5 de jan. de 2013

Em tua Presença Senhor!

Um vazio irrequieto surrupiou a alegria do meu sorriso. De repente um semblante tristonho se prolongou nas bordas castanhas do meu olho direito e um vento frio fez tremer os cílios escuros do olho esquerdo. Assim, distraidamente, o dia perdeu a sua graça. Ficou orbitando no ar até desaparecer entre os risos sorrateiros e leves. O coração batia sem ânimo. E andar pra lá e pra cá nunca teve tanta ausência de sentido. Que seria isso meu Deus? Que tristeza é essa que caminha tão perto de mim? Será que foram as uvas esverdeadas que comi depois das cinco? Ou aquele sentimento de vazio descortinando cada alegriazinha cotidiana? Sei lá, as vezes um estranho sentimento se apresenta e nos deixa assim, apáticos. Sem vontade, sem coragem, sem nenhum motivo para acreditar. Fiquei me perguntando se esse sentimento também surrupiava a alegria de outros, se a dor também se expandia vez por outra na janela de outros habitantes deste lugar. Mas, uma coisa eu sei, essa ausência não consigo suportar. Quando você experimenta a presença de algo que está além da sua compreensão todo o seu ser fica cheio, gordinho. Sempre preferi ser rechonchuda por dentro, já que por fora sou um tanto esbelta. E quando o seu oásis interno seca, fica tudo tristinho, o riso se esvai, a fé fica magrinha e a alma padece de fome. As vezes nosso interior fica assim, desértico. E é nessa hora que percebo como é essencial em minha vida a graça de Deus. Sem Deus minha vida perde o gosto, perde a graça, literalmente! Sabe quando você tem inúmeros motivos pra ficar bem e mesmo assim sente um tênue desconforto? É essa pequena fagulha que faz o fogo acender. É esse ausência que me faz valorizar ainda mais a presença de Jesus em minha vida. E fico indagando-me : E como será a vida daqueles que nunca experimentaram o doce sabor de Cristo? Deve ser como uma borboleta escandalosamente linda em um jardim tenebroso, ou uma lagarta tenebrosa em um jardim escandalosamente perfeito. Qualquer coisa sem concordância, sem equilíbrio, é a falta, um pequeno buraquinho na artéria aorta, consumindo cada batida do coração. Posso afirmar isso porque a minha vida já foi realmente vazia. Sim, vazia. Como um lindo vazo de cores abstratas profundamente oco. Sem flores para embelezar, sem água para dar vida. Vazio e quieto. Mas bem lá no âmago eu sabia, que havia algo que preencheria cada espaço solitário. Busquei em muitos rostos, em lugares inóspitos o que faltava aqui dentro para meu sorriso ser um sorriso verdadeiro. Todavia, não conseguia encontrar o pedaço que faltava... A ausência novamente me tomava. É estranho e contraditório se sentir sozinho estando cercado de pessoas solitárias. Elas estão com você e ao mesmo tempo não estão. Olham nos seus olham mas não conseguem te enxergar, tocam seus dedos mais não transmitem calor para nos aquecer. O vazio não consegue encher o vazio, da mesma maneira uma pessoa desértica não consegue interromper a desertificação que se aglomera na alma do outro. Ficam como dois rios secos que se olham superficialmente e nada podem fazer a não ser orar por chuva. E quantas pessoas estão assim? Como o sertão do Nordeste em tempos de escassez? Suplicando por água para encher a sequidão interior que ceifa os sonhos e a esperança? Assim eu era no tempo das vacas magras. Mas um dia, encontrei uma sublime fonte. Ela jorrava águas vivas de um brilho suntuoso e lindo. Me estiquei e bebi um pouco. Minha boca ressecada agora saboreava uma preciosidade em meio a aridez do deserto. Vida, frescor de graça molhando todo o meu corpo quente. Podia sentir cada parte de mim refrigerada e sorrindo feito criança em dias de tempestade. Recordei dos tempos de criança que tomava banho de bica, molhando tudo, sentindo como se nada no mundo fosse mais maravilhoso que me banhar na calçada do quintal. E toda ausência foi partindo, no caminho que se abria na areia cálida. Pulei feliz no deserto, cantei feliz no deserto, senti a vida nascendo na poeira latente do deserto. E da ausência se fez presente a graça! Contagiando tudo dentro de mim, ressuscitando o que estava quase sem vida. Refeita conseguia gritar a liberdade entre as tamareiras colossais que sorriam enquanto eu adorava ao meu Rei. Ele me curou das dores internas, fraqueza não mais sentia, apenas um leve aroma de graciosidade. Até os sonhos moribundo ele deu de beber e eles voltaram a viver. Senti o sentido de tudo pulsando e vibrando todos os meus ossos. Como é bom sentir e ter algo para preencher o abismo que cresci em meu ser. Como é bom sorrir e cantar sabendo que posso confiar em alguém além de mim mesma. Saber que quando eu estiver me sentindo solitária alguém estará ali presente olhando diretamente em meus olhos. Me segurando quando estiver despencando, me ouvindo quando ninguém mais quiser escutar o meu pranto. E todo o sentimento de vazio se esvai de mim, e fica somente o amor de Deus me inundando, até que tudo transborde em meu ser!

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