2 de jun. de 2012

Dia dos solitários.

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Era um delicado relicário em formato de coração.Pequeno,cabia na palma da mão.Ao lado dele havia um envelope com um espaço minúsculo para algumas palavras,e logo abaixo a frase que seus olhos leram com desprezo '' feliz dia dos namorados''.A vitrine da loja oferecia os mais atraentes presentes para aquele bonito dia que as pessoas gastam seu dinheiro comprando joias,perfumes ou qualquer mercadoria para demonstrar que ama,que gosta,que deseja viver para sempre ao lado daquele ser,ou pelo menos até o próximo 12 de junho.E para ela isso era apenas mais uma desculpa para ganhar presente.E naquela noite seus olhos brilharam com uma ternura diferente diante daquele dócil objeto dourado.Ela o queria,desejava aquele mimo mais que um beijo quente numa noite úmida.Mas não via graça em comprá-lo,queria que alguém o coloca-se gentilmente em seu pescoço.E depois ela poderia abrir o envelope e sorri ao ler cada palavra meiga.Imaginou as lágrimas caindo e um abraço apertado comprimindo o relicário.Depois ela colocaria o retrato dos dois dentro do colar,e eles ficariam sempre juntos na imensidão daquele espaço.Mas ela continuava de pé olhando fixamente para a vitrine estática.O silêncio ao seu redor,e um sussurro sombrio a cantar uma música cinzenta que despertava seus olhos dilatados daquele estado hipnótico.Ela caminhou para longe dali,e seus passos eram pesados de raiva.Ela queria estar como eles,como aquele casal sentado no banco,olhando-se profundamente como se tocassem a alma um do outro em apenas uma piscada.Não,ela não suportava aquilo.Aquele dia a torturava.Seu coração solitário almejava um outro coração transbordar em seu órgão oco o néctar para salvar a sua alma.Mas não havia outro ser a sua procura.E se houvesse,havia de ter esquecido de comprar as passagens para o próximo trem.Pobre moça.Desfalecida a olhar a luz solitária da lua.As estrelas decaídas no seu colo,e ela sem força para recolocá-las no céu empalidecido.Alguns vaga lumes piscando uma frágil luz que aquecia seu peito frio.E o seu ego esmagado no meio das poças de água que desalinhava a simetria da rua.Devia existir um dia para os corações solitários.E talvez nesse dia ela fosse um pouco menos crua consigo,e compraria aquele belo colar da vitrine.Porque no dia dos solitários as pessoas se presenteiam como se fosse a mesma coisa que receber um beijo de outros lábios,e sentir o calor de outra derme aquecendo o coração delicado.Mas,infelizmente,nós,solitários sabemos que não é bem assim.

Um comentário:

Scarlat Assunção disse...

que lindo o jeito que tu escreves! A forma como carrega de adjetivos e mantém os versos delicados! Lindo texto, lindo! <3