12 de mai. de 2012

CORAÇÃO ARTIFICIAL Capítulo 1.

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   Todos os dias ele colhia as flores mais serenas do jardim.E discretamente as colocava na janela de sua querida Violet.Ela despertava todas as manhãs com um sorriso alegre no rosto,e tocava os pés no chão frio da casa solitária.Caminhava saltitante até a janela lilás e aliviada pegava a flor que calmamente a esperava.Era uma quarta-feira bonita.Dessas que nos prometem o mundo e nos presenteiam com a Via Láctea.E Violet inspirou o doce perfume da rosa e suspirou apaixonadamente como Julieta ao vislumbrar Romeu surgindo na Toscana.
   Essa poderia ser uma uma linda e feliz história de amor,mas estou no século errado.Não é quarta-feira e não há nenhum casal apaixonado.Na verdade essa história se passa em um lugar inóspito de romantismo e tons cálidos.Ninguém colhia flores,nem as colocava na janela.Nem esperavam algo que nunca iria chegar.Essa história não aconteceu na Itália,muito menos na Europa.Aconteceu aqui,ali,em todo lugar.É a respiração cansada de uma geração cinza e apática.Que se acostumou com o frio,com o drama de um inverno que não quer cessar.
    7 de setembro.O relógio marcava um da tarde,hora do seu nascimento.Agora,18 anos depois ela sorri desconcertada tentando se alegrar com a ideia vaga que talvez ganhe algum presente de aniversário.Os pés tocam o chão indiferentes,e ela caminha preguiçosamente até o quintal imundo.Nada para fazer.Sentia-se impotente diante da realidade que desmotivava seus olhos.Não havia beleza naquele lugar,não existia vida naquela terra desértica de amor.Voltou para o quarto mais desanimada que outrora,e olhou pela milésima vez se havia alguma mensagem no celular.Nada.O sentimento de solidão estava presente nas cinzentas pupilas.A cada piscada menos compreendia o sentido daquela letargia.Ela ligou a TV e sentou no tosco sofá.
    Chamava-se Elly.E não tinha sonhos encantados;não queria príncipe nem sapo,gostava de estar só e isso trazia a ela uma estranha segurança.Já se apaixonou e perdeu o coração várias vezes.Ele já foi atropelado,esmagado,sofreu três paradas cardíacas e foi pisoteado.Ficou internado em coma induzido.Até que o trocou por um coração artificial.Um coração que só bombeava sangue,nada mais.
    Não chegava a ser um robô porque ainda tinha sentimentos.E como tinha;eles sem apareciam no breu quando todos dormiam.Ela olhava para a escuridão e tudo ficava claro em sua mente.Pensava na hipótese de ficar sozinha para sempre.Mas com o tempo acostumou-se com a solidão.Gostava daquela sensação de absurdo,de indiferença.De sorrir sem alegria,de ouvir sem escutar,de falar sem dizer,de querer sem lutar.Estava acostumada com tudo.E raramente se queixava.Achava inútil reclamar de sua vida para alguém mais infeliz que ela.Fica assim calada,sem nenhum prazer de proferir palavras.Bastava a tentativa de manter os olhos abertos 16 horas por dia.E esses mesmos olhos não eram azuis,nem verdes,nem ensolarados.Eram pretos,cinzentos e apáticos.Não eram olhos de Capitu,nem os vivos olhos de Maysa,eram seus,eram pálidos,eram olhos carentes de afago.
Escrevi essas palavras no fim da noite de hoje.Rabiscos mesmo,depois transcrevi para cá.É o primeiro capítulo de uma história triste.Uma história real que está do nosso lado.Que caminha junto de cada ser apático.Que mascara seus sentimentos e os revela na penumbra.Espero com ternura que gostem dessa postagem.E percebam o que há por trás de cada linha cinzenta.Olhem para si,escutem o coração,e reflitam se ele ainda bate,com avidez ou artificialidade.Tenham um ótimo dia das mães!
                                                  Tammy. 

2 comentários:

Mayara e Bruno disse...

"E esses mesmos olhos não eram azuis,nem verdes,nem ensolarados.Eram pretos,cinzentos e apáticos." É linda a forma como você transmite sentimentos. Adorei o texto. Obrigada pelos elogios, fico feliz quando vejo que existe gente como eu, que ainda acredita no amor verdadeiro. Estou seguindo o blog. Beijos.

Alexandre Lucio Fernandes disse...

É difícil crer, mas mais difícil é não ver o quanto o mundo está vago. As pessoas desaprenderam a sentir, a amar, ficaram acomodadas, acostumaram com o frio. Perderam a esperança. Talvez. Não sei. Mas há muito que não vejo tantas pessoas famintas por amor, por sentimentos autênticos; que lutam fielmente por suas felicidades. Os dias andam pretos, cinzentos sim. Porque as pessoas inspiram o ar e expiram fuligem. A fuligem da descrença... da covardia.

Beijo!