17 de jan. de 2013

Magra.

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Um olhar atento a imagem refletida no espelho. Magra como um palito, disse a mim mesma enquanto baixava as pálpebras e contemplava as lágrimas tocando o piso frio. Toda a dor ruindo e me esvaziando. Agora conseguia entender porque eles me olhavam daquela maneira abrupta. Cortaram-me em pequenos pedaços de nada, dissecaram meu coração e riram como crianças felizes. Não, eles não sabem como dói. Caminhar na rua sozinha em um sábado quente é melhor que estar repleta de pessoas vazias que se acham cheias. Você devia ver o jeito que eles me olham. Do último dedo do pé até os cílios do olho esquerdo. Talvez eu tenha errado a rua e entrado na floresta. Eu vi as tochas acesas e eles gritavam por mim enquanto a lua sorria como uma pluma no meio do oceano. Não, você não sabe como dói. Estava frio e sua voz me aquecia naquela penumbra, até o momento daquelas palavras cortarem meu ser. Senti como se afundasse na Antártida, o gelo furando cada parte do meu corpo. Você zombou de mim como todos os outros. E não conseguiu segurar meu sorriso quando ele despencou do meu rosto. E agora só restou esse silêncio. Só queria ser aceita com meu pouco corpo, que querem mais? Eu pedi tanto para que não me deixassem só. Para estar sozinho não é preciso estar só. Cercada de vasos ocos resseco ainda mais o meu deserto. Parece fácil caminhar em uma perna de pau? Tropece e veja todos rindo. Seu coração dolorido e ninguém se importa em ajudá-lo. Tentei impressionar com um sorriso azul mas... ele não serviu por muito tempo. A moça de quadris largos roubou todos as pupilas do recinto. Agora sorria com seus dentes amarelos e continue a fingir que se importa. Receio gostar de alguém e depois ter que me acostumar com sua ausência. Os copos vazios na mesa e o café amargante na boca. Com o tempo aprendi a me desiludi antes mesmo de tudo se tornar ilusão. Por medo. Você não sabe como as palavras ferem um coração. As palavras soam como punhais a perfurar a alma. E o mais atroz é saber que tudo isso é simplesmente pelo meu reflexo esguio no espelho. Eu não sei ser outra pessoa a não ser esta que está escrevendo. Você pensa que é divertido  ver todos rindo internamente enquanto você acredita nos adjetivos pérfidos que eles proferem? Não, você não conseguiria me amar se eles não me amassem antes. Eu não vou me desculpar pelas minhas pernas magricelas, eu não sou obrigada a ter uma grande nádega e seios fartos para ser maravilhosa. Eu não preciso exercitar os glúteos para atrair a alcateia . Sempre a procura de alguém para exercitar o seu lado negro. Eu não quero ser mais uma presa fácil. Você saberia como eu me sinto se conseguisse pensar mais que a maioria. O que é bonito para você querido? Meu corpo simétrico correndo na praia enquanto você me almeja como um cupcake? É fácil amar o desejável, aquilo que os outros querem. Mas, nessa atmosfera densa quem se importa com o fósforo? Quem se importa com as lágrimas de alguém que chora no pátio da escola? Quem daria atenção a alguém tão fino e frágil? Abraço? Afeto? Carinho? Deixa para os seus parentes, dizem eles. Mas até esses não poupam lançar dardos cheios de veneno. Você se importa? Não, você não está nem aí para a moça raquítica que parece ser feliz por ser inteligente. Você gosta de rir dela enquanto ela fala alguma coisa engraçada, e pensa consigo como ela consegue ser mais feliz que você. Mas você não sabe que por trás dos risos há uma enxurrada de lágrimas. Ah é, você não está lá para limpar o rímel que manchou todo seu rosto com o breu. É legal esnobar de alguém que não revida. Vestindo roupas largas para esconder o que falta. Tentando ser qualquer coisa menos você. Você pensa que é fácil ser magra, mas não tem nada de bonito nisso. As pessoas te olhando como se você fosse um animal ridículo, e você fingindo não perceber o cheiro de carne vencida. Suas amigas com seus belos namorados no sábado a noite e você em casa assistindo qualquer babaquice da tv. Vendo as mulheres mais desejados do país mostrando o quanto você é medíocre por não ter a bunda mais linda do verão carioca. Você não sabe como é comprar roupas na seção infantil, enquanto garotas mais novas usam um número bem distante do seu manequim 34. Pensei que iria receber flores mas na verdade eram algumas receitas para engordar. Como se dissesse que só iria ficar ao meu lado caso eu fosse como uma daquelas dançarinas do Faustão. Não, você e eles não sabem como é gostar de uma roupa curta e evitar usar por saber que todos irão rir como hienas da seu corpo esquelético. Você não sabe como dói ser chamada de doente e anoréxica pelo simples fato de ser magra. É como um fardo que levamos para onde formos. Sempre buscando pessoas que te amem do jeito que você é. Sempre querendo provar para os outros o quanto você é legal e inteligente a ponto deles desistirem de te esquecerem. De olharem pra você normalmente ou até mesmo nem te notarem. Não, meu querido, você não sabe como é ser magra. 

4 comentários:

Mayara e Bruno disse...

Eu não tenho palavras para dizer o quanto o seu texto me tocou, de verdade. Eu me senti assim tantas vezes na minha vida, e parece que a cada linha que e lia do seu texto eu me via no passado, e em alguns momentos, no presente... Muito lindo.

Desa disse...

Eu também me sinto assim, muitas vezes...e em pensar que as pessoas são tão cegas e alienadas sobre esse assunto, é uma das coisas que mais me angustia. As vez só basta um olhar torto ou uma frase pra estragar nosso dia. Não temos obrigação de ser uma boneca "Susi", só por que as pessoas acham que é essa melhor forma.
É melhor ser um vaso cheio do que um oco que acha que brilha pela sua futilidade.

Samara Even disse...

Me emocionei ao ler. Como sempre você fazendo agente se identificar. Descreveu exatamente como é o lado negro de ser magra e julgada. Só quem é pode entender que não é drama nenhum. Sim,eu me amo assim,porque eu sei que é pisando nessas pedras que eu vou aprender a ser cada vez mais forte. E sim,eu acredito que alguém vai me amar e desejar assim,do jeito que eu sou. (Nós né):) Bjin'

Rita Cardoso disse...

Está tão verdadeiro, tocou-me mesmo. Só este texto mostra o que as mulheres sofrem nas mãos de gente má.
Não consigo descrever o que senti ao ler. Muito bom!