23 de nov. de 2012

Para meu amigo,

                                               
Um silêncio discreto perambulava entre as faces juvenis que tentavam observar a imensidão amarela que se esticava no horizonte distante. Com os olhos pequeninos contemplavam o sol ardente e sorriam distraidamente como duas crianças soltas no litoral. Os olhos do garoto refletiam a extensão daquela cena cintilante. O sol parecia derretido na íris de seus olhos, um tom ensolarado que brilhava quando ele sorria ao ver o tempo passar devagarzinho. Ele corria feito pipa azul no céu de um domingo nas férias. Os pés descalços tocando a areia e dando pulinhos a cada onda que se aproximava. Cada segundo sentido em sua extremidade, o vento geladinho atiçando os cílios, cada palavra falada com sinceridade refletia sua essência infante. E cada passinho rápido, os braços abertos sentindo o vento, o sorriso amarelado irradiando seu frescor de vida. E como aquela tarde que adormecia mansamente na bruma noturna, o menino se despia das roupas infantis e se transformava em um mancebo de bonita envergadura, olhos de horizonte em dias de sol escaldante e aquele jeito intrínseco de perceber as incongruências das coisas. O moço se tornou mais taciturno. A inquietude permanecia, sonolenta e domesticada. As corridas pela orla tornaram-se raras, vez ou outra arriscava uma aventura desvairada em dias de euforia interior. Criou estratagemas, traçou metas, articulou meios de se defender do desprezo, acabando por se distanciar dos outros. Mas eram os mesmos olhos ensolarados contemplando o entardecer no mesmo cais daqueles tempos de criança. Os mesmos sentimentos de querer pular naquelas águas misteriosas e mergulhar no silencioso oceano até chegar no fundo. A velha ânsia de querer voar como aqueles pássaros peraltas  de verões remotos. Mas, em meia aos desejos havia uma porção enorme de indolência. Aquela preguiça que muito bem adjetiva o indivíduo quase adulto. Ele queria tanto, mas faltava impulso. Talvez não fosse carência de impulso, devia ser só falta de coragem mesmo. Vez por outra se encantava, e jogava a cabeça para traz para estender seu riso. Aquele riso liquefeito em ironia, que perturbava tantos. As vezes escrevia sobre sentimentos, fatos, pessoas, dias de chuva e excentricidades. Gostava de ferir os soberbos para elevar a sua estima, brindar sonhos e chorar sozinho. E no fundo, no abismo oculto do eu, ele almejava a solidão. A quietude do silêncio, o choro velado em madrugadas densas. Tinha uma voz melancólica e pausada. Sorria feliz nas fotos mas havia uma certa ironia no canto dos olhos. Ao anoitecer sua íris assumia uma cor distinta daquele verde oliva no amanhecer, eram como uma turmalina verde, recém lapidada. Ele queria escrever um livro, gritar carpe diem e ser mais solto. Talvez ele colha o dia, e escreva um livro, e volte a se jogar nas ondas geladas em dias não tão eufóricos. Mas isso é algo que só ele pode viver.

Dedico este texto para um amigo muito querido, um pequeno retrato da sua face de sol e chuva. Segunda foi seu aniversário, e hoje fiz esse vislumbre. Que reflita nesse esboço da sua pessoa, uma percepção intrínseca. É apenas meu modo de te perceber. Grande beijo. Amigo*)

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